O ego é demonizado porque frequente vemos sua expressão descontrolada à nossa volta, e nossa sociedade estimula um desequilíbrio ainda maior através do consumismo e competitividade exagerada, entre outros fatores. Assim, para nos protegermos, nossa tendência é ir ao outro extremo, que é a negação completa do ego, considerando-o nosso inimigo.
A imagem acima é bem indicativa de como nossa sociedade lida com essa crucial parte da nossa personalidade, descartando sua natureza essencial de ser e proteger e focando-a em fazer-fazer-fazer; ir-ir-ir. (Em inglês “go” significa “ir”.)
Afinal, o que é ego?
Existem inúmeras teorias e explicações sobre o ego na psicologia e psicanálise que não serão abordadas neste post. Vamos manter as coisas simples, ok? Dito isso, este artigo não é científico e expressa somente a nossa opinião, que deriva dos ensinamentos recebidos de nossas referências espirituais e científicas e de nossa experiência pessoal e de nossos clientes. Pegue o que te serve e descarte o que não servir.
A palavra “ego” vem do latim, e significa “eu”.
A mais simples definição moderna de ego é encontrada no dicionário, e é “o conceito que alguém tem acerca de si mesmo”. Isso significa que o ego indica o que vemos quando olhamos no espelho. E o ego naturalmente quer ser visto, reconhecido e amado, porque todos nós temos esse direito inato.
O ego é absolutamente essencial à vida em um corpo material. É o ego que nos permite diferenciar o que é o “eu” do que é o “outro”. Sem essa sensação de individualidade, a experiência humana não seria nada humana! Você consegue imaginar como seria viver sem essa sensação de separação?
Funções de um ego saudável
Uma função derivada dessa noção de “eu” é a capacidade de estabelecer limites saudáveis, de manter a soberania sobre a nossa própria vida. Uma pessoa com ego equilibrado sabe dizer não quando necessário, sabe fazer escolhas que lhe beneficiam levando em conta as outras pessoas à sua volta, consegue tomar decisões conscientes e ponderadas.
O ego também faz a ponte entre a mente consciente e a mente subconsciente. A mente consciente é a nossa capacidade de focar nossa atenção, de pensar, raciocinar e aprender. É na mente consciente que nosso diálogo interno acontece, seja ele positivo ou negativo. A mente subconsciente contém todos os programas que operam mesmo que nossa atenção não esteja focada neles. Um exemplo clássico é respirar; outro é aprender a andar de bicicleta ou dirigir. No começo, precisamos prestar muita atenção em cada movimento, e com o tempo nosso corpo reage automaticamente sem que precisemos focar nisso. É nessa hora que essas habilidades aprendidas se tornam “programas” e são transferidas da mente consciente para a mente subconsciente para abrir espaço para novos aprendizados e experiências. A mente consciente tem uma capacidade limitada de processamento, enquanto a mente subconsciente é praticamente ilimitada, proporcionalmente.
Existe muita confusão aqui pois há quem associe o ego com a mente consciente, como se fossem a mesma coisa. Propomos aqui uma visão diferente, na qual o ego funciona como uma tela que filtra quais informações chegam à mente consciente a partir do subconsciente, e quais ficam operando somente em nível subconsciente. Assim, sem o ego teríamos que manter atenção constante para respirar, digerir nossa comida, ativar nossos músculos para andar etc.
O ego também tem uma função crucial à nossa sobrevivência, pois sem uma noção de “eu” nós não teríamos instinto de sobrevivência. É o ego que aciona nossos programas de sobrevivência e proteção quando nos deparamos com situações consideradas perigosas ou desconfortáveis. Lembre-se que o ego é a tela que separa e conecta a mente consciente com a mente subconsciente. Por estar no portal interno entre um e outro aspecto da mente, podemos dizer que o ego é nosso guardião maior. Ele procura nos manter seguros e confortáveis o tempo todo. Ele é nosso aliado!
Entretanto, isso pode se tornar uma faca de dois gumes dependendo de como fomos programados pela nossa família e sociedade. Podemos ter sido programados com tanto medo, por exemplo, que nossa necessidade de proteção se torna extrema e prejudicial a outros aspectos da vida.
Essa programação acontece naturalmente e faz parte da vida em sociedade: como nossos pais se dirigem a nós, como pensam, agem e interagem, o que vemos na televisão etc. Tudo isso programa a nossa mente consciente e subconsciente para reagirmos a estímulos internos e externos de uma forma ou de outra. Por exemplo, pais que optam por dar somente estrutura material e colocam a saúde emocional dos filhos em segundo plano os estão programando a buscar amor em bens materiais. Mas lembre-se, embora esses exemplos sejam principalmente negativos para fins ilustrativos, também somos programados com incríveis capacidades e potencialidades.
A sombra do ego
Quando falamos em “sombra” do ego, nos referimos a um ego desequilibrado. A demonização do ego anda de mãos dadas com a demonização da nossa sombra, de tudo que é escuro, do medo e outras emoções consideradas “negativas”, e de tudo que julgamos ser ruim ou errado – entram aqui os programas resultantes de nossas experiências coletivas e pessoais que delineiam o que consideramos certo ou errado. Esse é um tema para outro post, mas é importante mencionar que nossa abordagem terapêutica busca integrar a nossa sombra para que ela volte a fazer parte do nosso poder pessoal. Afinal, tudo é energia e recuperar energia estagnada ou mal direcionada nos empodera enormemente!
Um ego desequilibrado opera entre dois extremos:
A Maria-vai-com-as-outras: A pessoa pensa tão pouco de si mesma que não vê seu valor, não reconhece e não respeita suas necessidades, e é incapaz de dizer não para os outros. Essa pessoa nega seu poder, sua soberania, seu direito inato de ser quem é e de amar a si mesma.
O narcisista: Tudo é eu-eu-eu, para mim, sobre mim. Nenhuma pessoa além de mim importa, a não ser que me beneficie de alguma forma, e no limite que me beneficia. Essa pessoa tem medo de não ser vista e amada, e vai ao extremo de passar por cima de qualquer um para ser o centro das atenções.
Pessoas com esse tipo de desequilíbrio tendem a se identificar com seus egos em um nível extremo, no sentido que não reconhecem nada além do ego e sua necessidade exacerbada de ser vista – ou não ser vista – como seu senso de identidade.
A grande maioria das pessoas transita na faixa cinzenta entre esses extremos, dependendo do tipo de experiência e programação que tiveram; e a posição nessa faixa geralmente varia conforme cada momento e experiência.
Maria-vai-com-as-outras ____________________ Ego equilibrado ____________________ Narcisista
Como se relacionar de forma saudável com o ego
Tal como em qualquer tipo relacionamento, é fundamental cultivá-lo por toda a vida. Assim, não existe solução única, mágica e instantânea. Oferecemos abaixo alguma orientação como ponto de partida para ajudar.
Dito isso, lembre-se que não tem nada de errado em pedir ajuda, seja de um terapeuta qualificado ou de um amigo ou pessoa querida. Pedir ajuda não te torna menor, menos bom, nem menos eficiente! Pedir ajuda te torna uma pessoa que reconhece seus limites e está disposta a ultrapassá-los amorosamente. Pedir ajuda te fortalece, contanto que não se torne uma muleta (outro tema para outro post).
Na nossa visão, a primeira coisa a se fazer para ter um relacionamento saudável com o ego é reconhecer que o ego é intrínseco à experiência humana. O ego é nosso aliado e é parte fundamental do nosso sistema mente-cérebro.
Negar o ego ou considerá-lo nosso inimigo cria um enorme conflito interno, e isso gasta nossa energia e nos desempodera. Aceitar a si mesmo completamente não é fácil, especialmente quando existem até “especialistas” nos programando através de livros que o ego é nosso inimigo, que é errado ter ego, que o ego é sinônimo do seu extremo narcisista. Então um passo anterior à aceitação completa de si mesmo pode ser começar reconhecendo que essa aceitação é importante para harmonizar nossa vida. Lembre-se que isso é um processo, e é fundamental começar para termos qualquer chance de chegar a qualquer lugar.
Outra coisa que podemos fazer, mesmo se discorde da visão da SophiArctus sobre o ego, é observar o nosso ego e identificar em qual parte dessa faixa você se encaixa com mais frequência.
Ok, mas como eu faço isso? Você presta atenção em como você vê a si mesmo, em como você reage às situações e pessoas, e em seus pensamentos (mente consciente). Se pudermos nos colocar em um lugar de neutralidade, sem julgar os nossos pensamentos e reações, isso fica muito mais fácil. Esse é um exercício diário e constante. Ele consome energia, assim como qualquer iniciativa de melhorar a vida.
Essas duas indicações podem se ramificar em muitas ações e ferramentas, mas somente elas já são suficientes para instigar mudanças e podem ser desafiadoras, então pararemos por aqui, por agora.
Conversar pode ser muito terapêutico, e estamos aqui para ajudar, então deixe seus comentários e dúvidas abaixo. Aproveite esta oportunidade!
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